Prevenir é melhor do que remediar
- Eduardo Martins
- 12 de mar. de 2022
- 5 min de leitura
Atualizado: 6 de jun. de 2022

Como vai sua saúde mental? Os seus hábitos são promotores ou detratores do bom funcionamento da sua mente?
Nos últimos 2 anos, aprendemos cuidados básicos para proteger nossa saúde física. A pandemia nos ensinou a importância da velha máxima: “melhor prevenir do que remediar”.
Se fisicamente aprendemos a lição com uma campanha massiva dos meios de comunicação: use máscaras, higienize as mãos, mantenha o distanciamento social, o que se dizer sobre nossa saúde mental?
O que estamos fazendo para prevenir e não ter que nos remediar em matéria de saúde mental?
Nesse quesito, estamos longe do ideal. Prova disso são as estatísticas alarmantes do crescimento dos males da mente: depressão, ansiedade, síndrome de burnout (reconhecida este ano como doença ocupacional pela OMS – Organização Mundial de Saúde na Classificação Internacional de Doenças).
Sem ter nenhuma pretensão de tratar a prevenção de casos de saúde mental originados por questões fisiológicas ou químicas do cérebro (afinal, essa é competência dos psiquiatras), quero explorar as possibilidades de prevenção de nossa saúde mental do ponto de vista comportamental.
“Onde está o seu coração, aí está o seu tesouro”. Esta sábia lição vem do Evangelho de São Mateus.
Em que você pensa regularmente? O que é valor para você? O que orienta as suas decisões? Estas perguntas são de cunho pessoal, um convite à autorreflexão.
Mas, é possível intuir as respostas das pessoas a partir do que se observa de comportamento padrão em nossa sociedade.
Hoje se busca o prazer imediato. Aqui, agora. Basta observar os novos hábitos de consumo, especialmente aqueles relacionados ao entretenimento.
Máxima conveniência. Máxima disponibilidade. Máxima facilidade.
Estamos claramente perdendo o senso da dificuldade, da adversidade, da contrariedade, do sacrifício. E assim escolhemos o bem aparente, ao alcance, que nos dá menos trabalho e não aquele que nos exige esforço, empenho, luta.
É tanta facilidade no dia-a-dia, que a recompensa vem cada vez menos sem esforço. Mentalmente ficamos fracos, porque não treinamos para as dificuldades.
O que vale para o físico, se aplica ao mental também.
Por que uma boa alimentação, cuidado com o sono, prática de atividades físicas são uma boa receita para prevenção de nossa saúde física? Porque o organismo fica mais forte e menos vulnerável às doenças.
Isso não elimina completamente o risco de adoecer, mas nos faz mais fortes quando as doenças acontecem. Para manter uma boa saúde física é necessário esforço.
Qual seria o equivalente para manter uma boa saúde mental? Esforço, também.
Mentalmente, estamos fora de forma, porque cada vez mais abolimos o esforço e o substituímos pela máxima conveniência, máxima disponibilidade, máxima facilidade.
Para uma boa forma mental, precisamos de desafio, de superação, porque só depois disso é que vem a satisfação, muito mais duradoura do que o prazer, que vem de uma atividade que não requer esforço.
O prazer gera contentamento físico enquanto a satisfação gera contentamento psíquico, esse sim com impacto na saúde mental.
Meu objetivo não é condenar os avanços da vida moderna, a conveniência que a tecnologia nos proporciona, mas apontar para um desequilíbrio cada vez maior nas 3 potências que nos definem enquanto seres humanos: inteligência, vontade e afetividade.
Temos a capacidade de pensar, sentir e de realizar. Qual deve ser o equilíbrio entre estas 3 potências?
Uso uma metáfora para facilitar a compreensão destas 3 potências funcionando em conjunto.
Imagine sua inteligência como sendo o “volante”, a vontade, “o freio e o acelerador” e a afetividade, o “motor” do seu automóvel.
O automóvel bem guiado é aquele em que a potência do motor é usada na velocidade adequada (entre aceleração e redução) na direção definida pelo volante.
Um automóvel em que a potência do motor se sobrepõe à direção que se quer dar para ele, a qualquer velocidade, é um automóvel desgovernado.
Tem a capacidade de se colocar em movimento, mas qual será o seu rumo? E onde ele vai parar?
Vivemos um tempo de supervalorização do sentir, ou melhor, da potência da afetividade. A experiência sensorial é o que comanda nossas decisões.
Busca-se o prazer imediato para preencher nosso tempo, sem qualquer consideração se a quantidade é adequada ou se o momento é oportuno.
Um exemplo familiar é o consumo de series de canais de streaming. Aliás, um termo foi criado para um novo hábito desenvolvido, o “binge watching” em inglês ou “maratonar series”.
A tecnologia foi desenhada para se maximizar a permanência na frente da tela. A experiência é construída para ser extremamente prazerosa.
Guiados pela nossa curiosidade, podemos ficar horas a fio na frente da tela, sem ter nem mesmo a oportunidade de decidir se aquele é o melhor uso do nosso tempo. Decidem por nós! Próximo capítulo iniciando em 15s.
Nesse caso, “Afetividade > Inteligência + Vontade” é a inequação que descreve a disposição das 3 potências. A experiência sensorial é o que nos comanda.
As decisões são tomadas pelas emoções, gostos, sentimentos. O motor acelera em uma direção aleatória, de preferência, a mais fácil, a mais conveniente.
Mas, para maximizar nossa saúde mental, as 3 potências devem funcionar segundo a inequação:
Inteligência + Vontade > Afetividade
As emoções nos informam, mas é o bom uso da razão que direciona nossas decisões.
O resultado é a escolha daquilo que nos gera o bem mais duradouro, a famosa gratificação adiada, para quem é familiarizado com o teste do Marshmallow.
Essa sabedoria vem da Grécia Antiga, quando filósofos como Platão, Aristóteles entre outros, explorando sobre o que é uma vida bem vivida, descreveram as virtudes humanas, também chamadas de virtudes morais.
Resumiram essas virtudes em quatro: Temperança (ou autodomínio), Fortaleza, Justiça e Prudência. A volta delas, há muitas outras virtudes humanas satélites: coragem, generosidade, sobriedade, amizade, constância, mansidão, compreensão, gratidão.
A Prudência é a virtude que dispõe a razão prática a discernir, em qualquer circunstância, nosso verdadeiro bem e a escolher os meios adequados para realizá-lo.
A Justiça é a virtude que consiste na vontade constante e firme de dar ao outro o que lhe é devido.
A Fortaleza é a virtude que dá segurança nas dificuldades, firmeza e constância na procura do bem.
A Temperança é a virtude que modera a atração pelos prazeres e procura o equilíbrio no uso das coisas.
A palavra Virtude vem do latim Virtus, que significa força, potência. Virtude, portanto, é a capacidade de ordenar e governar a nossa conduta, sem desvios nem desastres.
As virtudes são as responsáveis pelo perfeito equilíbrio das nossas 3 potências de Inteligência, Vontade e Afetividade.
As virtudes nos ajudam a escolher o que é bom no longo prazo, não sendo reféns do que é bom apenas no curto prazo.
Adquirimos a capacidade de escolher (Vontade) não apenas o que gostamos (Afetividade), mas o que faz bem (Inteligência) no longo prazo.
Uma pessoa capaz de se autogovernar é líder de si mesma. Tem, portanto, a capacidade de mudar ou desenvolver o seu futuro. E todos nós aspiramos um futuro melhor.
Comecemos pelas nossas próprias escolhas. Maximize sua saúde mental. Pratique as virtudes humanas. Exige empenho, esforço, prática constante, mas o seu resultado é autêntica realização humana.
No 2º semestre de 2021, expliquei as 4 virtudes cardeais em vídeos de aproximadamente 5 minutos. Podem ser acessados diretamente neste site.
Confira a virtude que tem maior potencial para turbinar sua saúde mental em 2022.
É sempre melhor prevenir do que remediar!
Conhecer. Ser. Crescer. Conhecer-se para crescer. É tempo de crescer!
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