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Resiliente? Você precisa ser antifrágil!


Concluí recentemente um experimento que me fez entender um pouco mais sobre como pessoas adultas tratam aquilo que lhe deveria ser mais caro: o autoconhecimento.

Oferecida a oportunidade de responder uma ferramenta de autoconhecimento sem nenhum custo, pouco mais da metade das pessoas escolheram aprender mais sobre elas mesmas.

Em um tempo em que nunca tanta informação foi produzida pela humanidade (segundo Erick Schmidt, ex-CEO do Google, a cada dois dias geramos um volume de dados equivalente ao que criamos do início da civilização até 2003), arrisco dizer que as escolhas que as pessoas estão fazendo sobre o que SABER não são aquelas que lhe dirão como serem mais felizes.

Explico.

Há duas expressões que têm sido muito utilizadas para descrever o mundo em que estamos vivendo: VUCA e BANI

VUCA significa Volátil, Incerto, Complexo e Ambíguo.

BANI significa Frágil, Ansioso, Não-linear e Incompreensível.

Uma frase resume bem os acrônimos: a velocidade das mudanças aumentou consideravelmente. Daí esses oito adjetivos serem bons descritores da nossa realidade.

Se na atual jornada da vida, olhar para fora não resulta em uma imagem clara do que está acontecendo, olhar para dentro passa a ser necessário, especialmente quando se quer avançar apesar das incertezas.

Só assim se conseguirá enfrentar as adversidades confiantes na capacidade de superá-las e não ser derrotado por elas.

O que não me mata, me faz mais forte. “What doesn’t kill me, makes me stronger”.

Essa expressão você já deve ter escutado em alguma música. Nela está a raiz do conceito de antifragilidade, a capacidade de atingir uma condição superior após enfrentar uma adversidade.

Quer aprender a ser antifrágil? Faça um pequeno investimento de tempo nas próximas linhas deste texto.

“Algumas coisas se beneficiam com os impactos, elas prosperam e crescem quando são expostas à volatilidade, à aleatoriedade, à desordem e ao estresse, e adoram a aventura, o risco e a incerteza”.

Esse é um trecho do livro de Nassim Taleb, autor do livro "Antifrágil" e um dos maiores especialistas em probabilidade e incerteza.

Ser antifrágil é desenvolver a habilidade de lidar com o desconhecido, fazendo do evento vivido sua maior fonte de aprendizado.

É a disposição para experimentação, tentativa e erro na sua medida adequada, porque o que se aprende com o erro é maior do que seu dano potencial.

Aprender a falar um novo idioma é um bom exemplo de como ser antifrágil.

Um conhecimento básico, saber se apresentar, perguntar sobre preferências pessoais – comida, hobbies, lugares favoritos, pode ser o suficiente para se iniciar uma comunicação.

Independente do seu nível de domínio, em visita a um país deste novo idioma, se você sair de cada interação mais capaz, ou seja, com mais vocabulário, melhor pronúncia, melhor compreensão, você colheu os benefícios de ser antifrágil. Seus ganhos foram maiores do que as perdas.

O oposto de antifragilidade obviamente é fragilidade.

A primeira prospera no caos, na volatilidade, enquanto a segunda na ordem, na tranquilidade.

Enquanto para o frágil, qualquer tipo de erro representa uma ameaça e quer ser evitado a todo custo, para o antifrágil os erros, de preferência, pequenos, numerosos, reversíveis e superados com facilidade serão muito bem-vindos.

Como ser antifrágil então?

Reconhecendo os comportamentos que são naturais para você e aqueles que o(a) tiram da zona de conforto. Um excelente ponto de partida é conhecer seu perfil comportamental.

A ferramenta DISC é uma das ferramentas de análise comportamental mais populares do mundo, desenvolvida a partir do livro “As Emoções das Pessoas Normais” de William Moulton Marston.

Qualquer pessoa pode conhecer seu perfil natural em relação aos quatro fatores comportamentais: Dominância, Influência, Estabilidade e Conformidade, assim como saber o que lhe exigirá adaptação em cada um dos quatro fatores.

Para cada um dos quatro fatores, cada pessoa terá uma forma preferida de agir.

A Dominância está relacionada a sua atitude diante de problemas e desafios.

A Influência tem a ver com a sua facilidade de estabelecer relacionamentos, interagir com outras pessoas.

A Estabilidade diz respeito a como você reage ao ritmo dos acontecimentos na vida, ou como lida com mudanças.

Já a Conformidade está relacionada a como você lida com regras e procedimentos estabelecidos pelas outras pessoas.

Considere cada fator comportamental como sendo um espectro em que seu comportamento pode variar de um estilo a outro.

No caso da Dominância, de Reflexivo a Direto. Da Influência, de Reservado a Falante. Da Estabilidade, de Dinâmico a Estável. Da Conformidade, de Informal a Preciso.


Para alguém que prefere agir com mais prontidão e maior apetite a riscos, ter que tomar decisões pensando mais sobre elas, considerando seus prós e contras cuidadosamente, quando as circunstâncias assim o exigem, faz um esforço de adaptação. É o mesmo que mover no espectro da Dominância (Problemas e Desafios), do comportamento Direto para o Reflexivo, como sutilmente indica o gráfico acima.

Todo e qualquer comportamento que lhe exija fazer diferente do seu natural, é uma oportunidade de adaptação.

E quanto maior a sua velocidade em adaptar o seu comportamento, maior será sua flexibilidade.

Porém, flexibilidade não é sinônimo de antifragilidade. Isso porque a mudança de seu comportamento natural para outro adaptado em circunstâncias que assim o exijam pode não durar o suficiente para gerar o resultado que você precisa.

A antifragilidade pressupõe que você enfrente as condições adversas e experimente novos comportamentos o tempo suficiente para aprender e sair daquela situação melhor do que entrou.

Não confunda tampouco resiliência com antifragilidade.

A pessoa resiliente passa por uma situação adversa, sendo levada ao seu limite (imediatamente antes do ponto de ruptura) mas retorna ao seu estado original sem perder as suas características naturais. Ela não fica melhor depois de superar a adversidade. Mas, longe de querer desmerecer o comportamento resiliente.

Aliás, graças a resiliência, muitas pessoas conseguiram atravessar a pandemia, superando várias dificuldades a nível pessoal e profissional, e se vêem hoje em uma condição semelhante a que se encontravam no seu início.

O que torna a antifragilidade um conceito superior a resiliência é que ainda que ambas aconteçam na adversidade, na situação de estresse, o aprendizado é maior para o antifrágil do que para o resiliente.

Como escolher entre antifragilidade e resiliência? Pelo fator Tempo.

Explico com um exemplo pessoal com uma atividade familiar a muitas pessoas: a corrida.

Pelo menos uma vez na semana, tenho costume de voltar correndo da escola das minhas filhas depois de deixá-las. E parte do trajeto inclui a distancia do Pontão do Leblon ao Arpoador.

Recentemente em uma dessas corridas fui ultrapassado na altura do Posto 11 por um corredor que pela velocidade da ultrapassagem e tranquilidade com que corria parecia ser um corredor de maratonas ou meia-maratonas.

Escolhi de forma consciente aumentar meu ritmo para acompanhá-lo e descartei qualquer pretensão de ultrapassá-lo. Literalmente o fiz de meu treinador, sob o risco de ser rechaçado. Na pior das hipóteses, me deixaria facilmente para trás apertando o passo se não tivesse aprovado minha ousadia.

Passei a correr em um ritmo 25% mais forte para manter a distância constante entre nós. Após uns 300 metros nesse novo ritmo, para minha surpresa, fui convidado por ele para correr lado a lado. Seu incentivo “vamos! vamos!” não me deixou dúvida. O meu treinador era Argentino. Facundo era su nombre.

Resolvi que aquela era uma boa oportunidade para “desenferrujar” meu Espanhol e assim seguimos correndo e “hablando”, ele Espanhol e eu, ora Espanhol, ora Portunhol.

Após 1 km correndo em um ritmo 25% superior ao meu de costume e tendo que dividir o fôlego entre a corrida e a conversação em Espanhol, anunciei que encerraria nosso “treino” no Arpoador.

Sabia que continuar naquele ritmo por mais 1 km seria exigir demais da minha condição física. Meu objetivo não era vencê-lo, nem tampouco testar minha condição física ao limite. Queria simplesmente sair melhor do que entrei após aquele treino.

Para consolidação dos conceitos de Antifragilidade, Flexibilidade, Resiliência, eis algumas hipóteses abaixo:

- Ao ser passado pelo Facundo e desistido à primeira ideia de acompanhar o seu ritmo, teria sido FRÁGIL.

- Ao ser passado pelo Facundo e escolhido correr no ritmo dele por alguns minutos e voltado ao meu ritmo original, teria sido FLEXÍVEL.

- Ao ser passado pelo Facundo e escolhido correr no ritmo dele até onde ele parasse, teria sido RESILIENTE (isso se não tivesse “quebrado” pelo meio do caminho).

- Ao ser passado pelo Facundo e escolhido correr mais rápido do que ele, teria sido BURRO.

Mas, ao ser passado pelo Facundo e escolhido acompanhar o seu ritmo, abraçado a incerteza, o risco de ser rechaçado por ele, de me cansar e parar no meio do caminho, mas aguentado praticando Espanhol enquanto corria, fui ANTIFRÁGIL.

Antifrágil é ser levado fora da zona de conforto, testar seus limites, experimentar novos comportamentos, estar suscetível a falhar, errar, mas acima de tudo, aprender rápido.

Eis a dica de ouro. Para ser antifrágil, você precisa de dois aliados: o ambiente e o autoconhecimento. Os dois juntos!

Sem o ambiente para desafiá-lo, a probabilidade de voluntariamente se colocar em situação de risco, incerteza, estresse é pequena. Especialmente, se o seu perfil DISC for de Alta Estabilidade e Alta Conformidade.

Já o autoconhecimento é necessário, mas não é suficiente. Nossa mente é programada para o modo autopreservação.

Diz uma regra dos SEALs, força de operações especiais da Marinha americana, que quando pensamos ter esgotado nossa capacidade física ou mental diante de um obstáculo, só atingimos 40% do que podemos utilizar. Diante da dor ou sacrifício, a primeira reação é da autopreservação.

Permanecer em condições adversas, que lhe exijam comportamentos diferentes do seu natural tem alto gasto de energia. Saber dosá-las é o segredo para aprender e crescer na dificuldade.

Deixados por conta própria, a situação desafiadora nos leva com maior probabilidade ou à desistência precoce ou a um comportamento resiliente perigoso. Que o digam os atletas de final de semana!

Escolha ser antifrágil! Use o ambiente (ex. treinamento) e autoconhecimento para acelerar seu aprendizado.

Ainda encontrei mais uma vez com o Facundo que passou pela área em que me alongo após a corrida. Logo me perguntou: “No te cansaste?” Ao que respondi: “Todavía, no”.

Conheci um limite superior em que posso performar, tendo aceitado uma pequena volatilidade, incerteza no meu treino de rotina.

Saber a que tipo de risco, incerteza, volatilidade se expor é tirar o melhor do seu perfil comportamental.

Para aprender mais rápido, acelerar seu crescimento, sair mais forte do que entrou, comece por se conhecer melhor e seja antifrágil.

Conhecer. Ser. Crescer. Conhecer-se para crescer. É tempo de crescer!

 
 
 

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